sábado, julho 25, 2009

De volta ao trabalho











No post anterior, escrevi que estava de volta, aqui era o meu lugar. Gosto deste espaço, utilizo para revelar um pouco de minha trajetória no mercado editorial. Neste mês fiz um ano (dia 18 de julho) que trabalho como livreiro virtual, nos portais Estante Virtual, Gojaba e SebosOnline atuando em duas versões, para Estante Virtual, criei o nome de fantasia: Banca da Carioca, e para os outros dois portais escolhi: Esquinas do Tempo, inspirado no nome de outro blog que escrevo. Dali para cá, ganhei novo fôlego, mergulhei de corpo e alma no universo do livro, em sua comercialização, na verdade é dali que extraio o meu oxigênio. Neste retorno ao livro, conheci os livreiros que trabalham no Largo da Carioca e o pessoal da periferia. Foi uma experiência, sem dúvida, proveitosa, pois acredito que tenha conferido em meu currículo como o único livreiro com experiência em diversos segmentos do mercado. Faltava vamos dizer para preencher o currículo, o trabalho na rua, de onde conheci pessoas que se arvoram em dizer que são livreiros. Cheguei a ter ataque de risos... São na verdade despreparados intelectualmente, com pouca ou nenhuma intimidade com a leitura e com a escrita. Fica dificil compreender este grupo como livreiro, há claro exceções de dois livreiros. que ali, transitam. É importante lembrar que estão surgindo novos livreiros, pricipalmente sebistas, mas é assunto para mais adiante.
Se pensarmos por exemplo: em Alberto Mathias, um dos mais antigos livreiros do Rio, o neto André, falecido Carlos todos da tradiconal livraria Padrão, na Miguel Couto, no livreiro Edson Nascimento(falecido) da Interciência, na Presidente Vargas, trabalhei com ele. Pensar nos livreiros Ernesto e Lucien Zahar das importantes livrarias na área de ciências humanas (Galáxia e Ler), no Rui Campos (Muro e Travessa), nos livreiros Graça e Chico da Dazibao e Luzes da Cidade, dona Vanna da Leonardo Da Vinci. Kiki e Aluizio Leite (falecido) da Timbre, na Gávea, o historiador José Antonio, da Arte Palavra (fechada) em uma galeria da 7 de Setembro, da jornalista Claudia Amorim e a sua mãe dona Yaci, sócias da livraria infantil Malasarte, na Gávea. Havia em Ipanema, lembro agora da figura lendária do livreiro José Sanz (falecido) da livraria do Pasquim, no Leblon, do Luis da Mar de Histórias, no Posto 6.
Poderia lembrar de Maria Antonia, como livreira e editora da Duas Cidades, que conheci, cheguei a ser distribuidor da editora, de Raimundo Jinkings (falecido) que conheci de nome, também como distribuidor, foi livreiro bem atuante em Belém. Falar de livreiros é passear pelos outros estados, mas prefiro no momento, escrever sobre os localizados no Rio de Janeiro. Há o pessoal de Niterói, como o livreiro e professor universitário Aníbal Bragança da importante Livraria Passárgada, fez história, de Antonio Gomes Eduardo da rede Gutenberg, da Casa da Filosofia ( do irmão de Aníbal) e da Livraria Debates, da livraria Encontro transformada em Diálogo. Por hoje, chega, pretendo retomar o assunto mais adiante. Os pedidos me chamam. Agradeço aos que me visitaram, foram palavras bem estimulantes, foram a força necessária para voltar e retomar o caminho da escrita.

* Imagem de Carybé (1911-1997) - Pretendo mais adiante, escrever sobre o artista, como ilustrador, principalmente em parceria com Jorge Amado.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Eu voltei, agora para ficar.



Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar. Eu voltei pras coisas que eu deixei, eu voltei, e se alguém achar que virei cantor, pode ficar aliviado, pois continuo livreiro. Sem esta de cantar a composição de Roberto Carlos que serviu apenas como fio condutor do que penso escrever neste espaço.
De uns tempos para cá carregava a indecisão de sair da “rua”, se deveria ficar mais algum tempo, protelei, adiei o quanto pude esta decisão. Depois do choque de ordem urbana que o prefeito aplicou na cidade, com mais uma tentativa de organizar o insano caos urbano. Achei que era a oportunidade que me ajudaria a tomar a decisão, foi o empurrão que necessitava. Ficou claro para mim que deveria atuar apenas como livreiro virtual. No espaço da rua, com elevada sonorização dos pregões do pessoal que vende cd, dificultava estabelecer qualquer conversa com a clientela interessada em comprar livros. Assim, anulava o meu papel de livreiro, pois a fala (a conversa) um ótimo veículo para venda dos livros, estava comprometida. A pressão sonora interferia nesta relação (o saxofonista desafinado e a gritaria produzida pela turma do cd ), foi sem dúvida um dos fatores que contribuiu em muito a tomada de decisão. Por um lado, não devo ignorar que as condições do tempo, sujeitos a chuva e trovoadas, pesaram nesta vontade de sair da rua. Na rua tive uma boa experiência, revi amigos e vi surgir outros amigos. Estava convicto que estava apenas de passagem.
Minha inquietação e as perspectivas de atuar apenas como livreiro virtual selaram a minha decisão. Na situação em que me encontrava e o espaço que dispunha para vender, afunilavam as iniciativas de apresentar ao público leitor um acervo variado. Tive várias idéias, todas abortadas. As vendas não correspondiam ao trabalho, pois tornava dispendioso minha ida ao Centro. Cheguei a ensaiar a redução de dias e horário, passei um período vindo após o almoço em casa.
Uma das áreas atingidas foi o espaço de livros na Rua Bitencourt Silva, entre a Caixa Econômica e o Edifício Central. Este intento atingiu a gregos e troianos. O desespero, a incerteza de como ficaria aquele espaço ocupou aquele momento. Dois livreiros inicialmente foi o que restou no primeiro momento, os que estavam em dia com a taxa de ocupação estavam garantidos, dias depois, os outros livreiros foram retornando, parece que não haveria mais com que se preocupar. Um dos livreiros que se orgulhava de estar em dia com a taxa, por isso, declarava que o lugar que ele ocupava estava pago. Fazia questão de dizer que a extensão de sua bancada, uma das maiores dali, era aquela metragem. Alegava que um fiscal demarcara o pedaço. De uma hora para outra o seu espaço ficou reduzido pela prefeitura, os argumentos que sustentavam os prolongamentos de sua bancada para mim e os outros, caíram por terra. Era evidente o abuso do uso do espaço público. Era o famoso jeitinho brasileiro.
No primeiro momento ao partilhar um mini-espaço oferecido pelo livreiro Alberto Pereira, me entusiasmou, uniria a possibilidade de venda com a nova experiência no trabalho de rua., depois, pude perceber que a tradução desta nova atuação, não correspondia, as vendas eram poucas e espaçadas, mesmo com o enorme fluxo de pessoas que ali transitam, a grande maioria não tinham o status de leitor.
Bom, fico por aqui, volto em um próximo post.

*Imagem: Octavio Araujo

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Começo de um balanço final










Voltei para escrever, talvez, o ultimo post do ano. Dar uma geral e preparar a faxina como costumo fazer no final do mês de dezembro. Começo por jogar fora o que escondi embaixo do tapete, arrumar os papéis e livros espalhados, enfim, organizar o caos. No momento, estou predisposto a encarar as tarefas que me incumbi de fazer. Quero dizer que, ainda cabe recurso, posso protelar para qualquer hora ou dia do próximo ano.

Desde que voltei a trabalhar com livros e nesta etapa, como livreiro de rua. Foi uma chance oferecida e pela qual tive oportunidade de agradecer ao livreiro Francisco Olivar, que em verdade, reconheço como incansável trabalhador do livro.
A outra chance e não se deve desperdiçar, foi a que se apresentou com o filósofo nietzscheriano Alberto Pereira - “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal” - uma proposta logo aceita, de tomar conta de seu pequeno espaço (minifúndio), vender os seus livros, enquanto, fica liberado para outras atividades, como por exemplo, a de livreiro virtual, naturalmente, que em troca colocaria os meus em exposição.
Ali, fiz diversas experiências, inclusive à de acompanhar os valores que Alberto estipulava em seus livros. Depois de resultados insatisfatórios, tive de fazer uma mudança radical, pelas características dos livreiros que me circundam, nenhum deles trabalhariam com livros comprometidos com a cultura libertária. Assim fui à luta, entrei em contato com Rafael, historiador e autor de um importante livro sobre a história do anarquismo, editado e esgotado pela Mauad. Recebi logo em seguida um convite do editor Robson Achiamé para um almoço, seria oportunidade de rever o querido amigo, colocar as conversas em dia, tomar conhecimento dos lançamentos editoriais que pululam na cabeça deste fantástico editor. Admiro muito Robson, um incansável editor, de muitos anos de estrada, muitas vezes superando as curvas perigosas para deslanchar nas retas, mas carregando na bagagem as imensas dificuldades de um pequeno editor em nosso país.
Naquele espaço do Largo da Carioca, estou sentado em uma cadeira que é usufruída por uma turma de bunda mole, todos assentam a buzanfa sem a menor cerimônia, claro que os amigos do cd, há um espaço cativo para eles, cedo para almoçar ou descansar um pouco da longa jornada vendendo cd em pé durante horas. Estou localizado do lado de fora da tenda, fico embaixo da marquise do Edifício Central, no meio da muvuca dos vendedores de cd, deste modo, estou sujeito a pisadas, nem sempre com as devidas desculpas por terem acertado o alvo. A vida que segue.
Meu retorno ao livro, depois que os amigos do livro souberam que estava de volta ao campo de batalha, muitos passaram para uma visita e por conta disto fui à Livraria Martins Fontes, em novo local que não conhecia, recebi as honras da casa, por intermédio de Sérgio, que aliás, conhece tudo de livro. Fomos colegas na Francisco Alves. Para minha alegria revi muita gente nesta nova fase de livreiro de rua. Assim, nesta nova condição vislumbrei o trabalho de venda de livros usados pela internet. Esta novidade foi à diferença. Renasci das cinzas. Hoje estou em três portais de venda de livros, em um deles, também trabalho com cd de músicas. Estou aos poucos galgando uma boa posição no ranking de sebistas, aferido pelo acervo em sua quantidade. Tenho um bom faro por livros de minha área, pudera, fui comprador de 3 livrarias por onde passei, além de ser dono de livraria em Ipanema nos anos 80, do modo que, tenho certa intimidade com a produção editorial publicada no Brasil.
Em minha trajetória no mercado editorial, além de minha bagagem intelectual, traduzida por leituras, auxiliar de pesquisa na faculdade nos anos 70, de minha intenção de estudar e inventariar as editoras de esquerda no Rio de Janeiro, de meus conhecimentos com autores e editores, de uma militância política nos anos 70, esbarro em meu caminho com pessoas totalmente desvinculadas do trabalho com livros, inescrupulosas, diria mesmo ignorantes, sem nenhuma leitura, sem nenhum preparo para lidar com a cultura letrada. São oportunistas, não é a toa que percebo ao analisar o perfil do trabalhador do mercado de livros, um absurdo, uma aberração, alguém que se diz livreiro, "sebista", classificar uma obra de Eça de Queirós como literatura brasileira, sem dúvida, é um atentado ao leitor que procura por uma obra do escritor. Exemplos de erros crassos são encontrados aos montes, até em cartazes que fazem para divulgar eventuais “promoções”, ou descrições como a encontrada: “Somos um cebo virtual que trabalha com vendas de livros usados de todos os generos”. Entendo que todos tem direito ao trabalho, de batalhar pela sobrevivência, mas que pega mal,uma pessoa que trabalha com livros, mal fala, mal escreve e mal lê, no mínimo uma contradição . Em nosso meio, pelo menos aqui em nossa cidade, não há uma escola para preparar, reciclar, oferecer cursos para um profissional do livro. Na verdade, houve um curso oferecido por uma oficina literária no Flamengo; em São Paulo, existe a Unesp. Olha a diferença! Como estou em cada ponto, aumentando um conto, paro para um intervalo, e volto no final do mês para um balanço final.

* Pintura de Tarsila do Amaral

sábado, novembro 15, 2008

Os Anarquistas estão chegando.















Outro dia, ou melhor, vez por outra, ressurge a pergunta inevitável para mim, se acostumei a trabalhar na rua no meio daquela muvuca, cercado dos mais variados sons, do som desafinado do saxofonista, passando pela elevada pressão sonora emitida pelos vendedores de cds e outros agregados, passantes ou não. Para o amigo que me perguntou, respondi que sim. Era a lei da selva, como animal político estava disposto a conviver com a poluição que o ambiente me proporcionava.

Neste momento, sou interrompido por um som, elevado som, provindo de um dos personagens incorporados ao cotidiano da Rua Bitencourt Silva ao lado do Edifício Central, em pleno Largo da Carioca, ali, passa um sujeito diariamente conduzindo rápido e impaciente, um burro-sem-rabo, portando um aparelho de som, tocando um "hit" americano destes que tocam em discotecas, uma bandeira de um clube, que não vale a pena ser mencionado, ou qualquer outra coisa que no momento, não lembro, mas são quinquilharias com certeza... Como cada louco com a sua mania, um outro louco - sempre se encontra um - nem sei se vivemos em uma cidade ou em um hospício, é uma loucura generalizada. Este, seguia, em movimentos frenéticos o ritmo da música. Coisas deste tipo é motivo de frenesi para uma galera atenta, ávida a qualquer movimento estranho...

Depois de ter aderido às vendas de livros pela internet, não estava muito convencido, pelas despesas envolvidas, a permanecer como livreiro de rua. As respostas dos amigos para as minhas hesitações, eram de estímulos a minha permanência, assim, protelei a minha decisão. No entanto, teria que fazer algo, dar uma sacudidela. Como fui distribuidor de livros, com mais de 70 editoras, embora, não tenha conseguido sobreviver, conheci muitos editores. Pelos livros comercializados naquele espaço, teria de procurar algo diferente dos demais livreiros, sou ideologicamente um livreiro de esquerda, é dentro deste campo que circula o meu pensamento, para fazer um diferencial, pensei nos livros sobre anarquismo, sobre a cultura libertária. Pronto! Encontrei o caminho. E fui à luta, fiz contato com Achiamé; fui seu divulgador, pracista e distribuidor. O material do Robson, seria a diferença que eu necessitava para alterar aquele quadro quase que negro. Alea jacta est, foi o que pensei de imediato.

Nesta ocasião conheci o historiador e pesquisador Rafael Dominicis, dali em diante, me foram encaminhadas outras editoras, como a Imaginário, do editor Plínio Coelho, um grande estudioso do anarquismo e tradutor. Fui distribuidor da Editora Imaginário, não conhecia a pequena editora Faísca com suas publicações libertárias. Gostei do catálogo.

É uma opção de trabalho, trabalhosa, reconheço, tanto, que estou ali, comercializando livros usados, apenas demorei muito para fazer esta opção. Às vendas destes últimos meses despencaram, tanto na rua, como na internet.É a crise do sistema capitalista que atinge com mais intensidade determinados segmentos sociais, e o livro dentro de uma hierarquia de valores de consumo como não ocupa um lugar muito privilegiado, é um dos primeiros a ser deixado para trás.A fome de ler é saciada de outra forma.

Em conversa com o meu amigo e parceiro, o Filósofo Alberto Pereira, livreiro da melhor qualidade, anunciei que os anarquistas estavam chegando, ocuparia grande parte da semana em exposição, no mínimo espaço que disponho, alternaria, se fosse o caso com outros tipos de livros, tenho um acervo e preciso girar com este material, fazer promoção.

A linguagem da rua é outra, movida por gritos, sussurros, barulhos e outros que tais. De onde fico, sentado em uma cadeira, que é democraticamente partilhada por várias pessoas, preferencialmente para os vendedores de cds que estão próximos a mim e trabalham em pé na grande parte do dia, cedo de bom grado para eles e aos outros conhecidos. Há sem dúvida, pessoas abusadas que sem nenhuma cerimônia, se apoderam da cadeira, sentam e nem agradecem pela eventual permanência. Quando solicito o lugar, encaram a saída como uma afronta a eles. No espaço da rua são construídos territórios, onde são codificados gestos e linguagens. A linguagem do corpo é uma delas, principalmente aquela em que Drummond lhe dedicou em versos: “Vai feliz na caricia de ser e balançar”. “Esferas harmoniosas sobre o caos.” Bom, fico por aqui, volto a qualquer momento ou em edição extraordinária.

Obs: Para o leitor curioso, o poema está incluído em O Amor Natural, página 25.


domingo, novembro 02, 2008

Ser ou Não Ser, Um livreiro de rua, eis a questão.



















Entre um cochilo e outro, acabei por dar um tempo para escrever como diria alguém, estas mal traçadas linhas. Escrevo para dizer que estou vivo, sacodi a poeira e dei a volta por cima. Diante deste teclado desarrumo minhas idéias e tento juntar palavra com palavra. Da ultima vez que escrevi, narrei a minha nova experiência como livreiro de rua e de livreiro virtual. Alí, de meu observatório em uma simples cadeira branca, sentado vejo o tempo passar e as pessoas, fico bem ao lado dos camelôs de cds em seu pregões diários, cada um grita mais do que o outro em busca da clientela, por conseguinte, da venda. Conheço alguns deles, são gente fina, estão batalhando desde cedo, como um dos mais velhos que ali trabalham, é no decorrer do dia vão surgindo o restante e outros agregados, como vendedores de café, de salgados, de frutas, etc... também uns chatos, verdadeiras malas sem alça, marcam o ponto naquele pedaço.

Os camelôs travam muitas vezes um batalha verbal entre eles, é uma disputa palmo a palmo na conquista de um cliente. Quando fecha o tempo, quer dizer quando chove, há uma mutação dos vendedores, de uma hora para outra, alguns se transformam e passam a oferecer sombrinhas e guarda-chuvas. Qualquer sinal de chuva ou ventania, nós livreiros , ficamos em estado de alerta. É a batalha pela sobrevivência. Nesta selva urbana, no meio desta balbúrdia, estou ali, tentando ganhar uns trocados. Sei que é um trabalho a longo prazo, para isto, ou seja, tenho de trabalhar na rua, implica em muitas vezes em não ter tempo para as leituras que vinha fazendo, um inventário sobre as editoras de esquerda e sua produção editorial.
Não tenho lido muito, o tempo dedicado ao oficio de livreiro virtual me toma mais tempo, além disto, tenho produzido melhor, estou identificado mais neste segmento, do que trabalhar como livreiro de rua. É muito barulho para pouca venda, e o melhor resultado para esta situação, são as pessoas que conheci e revi. Vivaldi, um bibliotecário aposentado, é um deles, conhecia de vista, e tive uma agradável supresa, é simpático, antenado, dono de uma boa cultura, conhece e percebe com a sua sensibilidade o meio livresco, o mundo dos livros em suas nuances. Gosto de levar um papo, aliás, tem sido um bom papo. Francico Olivar foi um dos que revi, conheço por mais de 20 anos, como já disse, é um bom vendedor de livros, batalhador e conhece o oficio, atua em um segmento diferente do meu, trabalha com livros raros, algumas preciosidades; conta com um público cativo e uma clientela atraída pelos saldos que promove. Olivar ainda vende vinil, que não deixa de ser uma alternativa para vendas. Encontrei Antonio Carlos, velho conhecido dos tempos de Eldorado Tijuca, fui colega de Marta, sua irmã em minha fase tijucana; um outro velho conhecido, foi Rizzo, meu gerente quando trabalhei na Interciência, encontrava mais vezes quando tive uma breve passagem pela Beta de Aquárius do livreiro Antonio Seabra. Aos poucos e com o recurso de minha memória volto a falar deste pessoal ligado ao livro ou as Ciências Sociais, dentre eles, o Mestre Aluizio Alves Filho, autor em plena esfervecência, tá produzindo a todo vapor, coisas da melhor qualidade, ainda mais conhece tudo de Monteiro Lobato, publicou um livro que está sempre vendendo, cujo título é As Metamorfoses do Jeca Tatu, editado pela Inverta. Tive contato com Michel Misse, fomos colegas de infância e de militância, tivemos passagem pelo Instituto La-Fayette, velho colégio tradicional da Tijuca.
Voltando à rua, aliás, para sobrevivência dos que ali trabalham, uma boa ferramenta, um bom chamariz, é a promoção de livros, que vai de acordo com o livreiro que promove. Vavá conta com uma vendedora que mantém vínculos de parentescos com ele, me parece uma pessoa legal, seu nome é Vera, irmã de Ana, uma livreira que trabalha junto com a filha. Acho a livreira simpática, mas implica comigo sem mais nem menos, sem motivo concreto. Não sei se Freud explica.
Júlio um outro livreiro, filho de um dos mais antigos livreiros, expõe em outro extremo, tem um bom acervo, vende cd e vinil. Acho Júlio legal, vez por outra dou uma força para ele, para ir almoçar. Domingos na companhia da mulher, nem sei o que vende, aquela área pertence a ele, paga por isto. Se for livro o que ele vende, não deveria, pois há uma enorme incompatibilidade intelectual com que ele supostamente vende e a sua formação rude de parcos conhecimentos, em outras palavras, é extremamente ignorante e de pouca familiaridade com a leitura.
Algum tempo atrás foi reclamada, uma suposta invasão, em uma simples tradução de seu gesto, foi uma ampliação de seu espaço, que motivou a presença de zelosos guardas municipais. Neste episódio pude observar que as delimitações espaciais não é declarada na licença e o que o inescrupuloso vendedor, estava blefando, utilizava o espaço a seu bel prazer.

Perdido entre os "grandes vendedores de livros", está o Filósofo Alberto, não é um nefilibata, é um silencioso livreiro, também batalhador, localizado em um mini-espaço, mas que de livro em livro vai levando a vida. É com Alberto que divido as tarefas diárias de um vendedor de livros. Estou ali, não muito convicto de que vale a pena, sinto que hoje, sou um livreiro mais para a web do que para a rua. A carcaça não ajuda muito, sinceramente o trabalho em casa, é todo dia e toda hora, não há restrições...cerceamento de qualquer espécie, faça chuva ou sol, pode pintar os pedidos. A chuva é a inimga cordial do trabalhador de rua, de modo que assim , em casa, no chamado lar doce lar, não estou sujeito as intempéries do dia; um outro batalhador do livro é Márcio, tem o seu espaço colado ao de Alberto e Vavá, é um bom camarada, quebrou meu galho quando trabalhei com Olivar, ajudava a armar aquelas bancas, digo que foi bem camarada e solidário.Cada livreiro atua em sua área de predileção, no meu caso, por identificação de formação, não fico ligado ao best-seller.
Amadureço a idéia, pois sinto-me mais gratificado vendendo para um cliente de qualquer ponto do país, do que ficar ali, sujeito ao movimento do dia, envolvido em uma poluição sonora e ambiental, o cheiro que exala das caixas de esgoto, é um odor terrível e desagradável. Na verdade, tenho pago para trabalhar, os custos são maiores que a venda, mas a companhia do Alberto, mesmo calado é estimulante. Alberto, uma das identificações que tenho com ele, é que conhece o mercado livreiro e entende de livros. Para ficar ali na rua, tive de abdicar temporariamente de minha pesquisa sobre mercado editorial, talvez seja o unico, atuando no livro pelo menos no Rio de Janeiro e interessado em pesquisar sobre o mesmo , aliás, em outro nível, com outro status, já no âmbito da academia, há o pesquisador-professor e ex-livreiro Aníbal Bragança, foi dono de uma das melhores livrarias das Terras de Araribóia, um grande promotor de eventos sobre mercado editorial, dono do blog Ler, escrever e contar aliás, sempre vale a pena uma consulta, claro se a alma não é pequena.
Voltando ao meu interesse de pesquisador, ou qualquer coisa nestes sentido, o que circulava pelas editoras, lá pelo idos de 60 e 70, era o que chamava atenção quando estudante e militante político ( base universitária) fui do Partidão(PCB). Freqüentador das poucas livrarias (hoje todas fechadas) que existiam e das feiras de livro, vibrava com os lançamentos, uma delas era a Editora Civilização Brasileira, do grande editor Ênio Silveira, com fortes ligações com o Partidão; a outra, era a Vitória, uma editora ligada ao Partido, que teve um período sob o comando de Leôncio Basbaum, enquanto esteve ligado ao PCB., mais tarde Leôncio criou a sua própria editora a Edaglit. Das editoras de esquerda, fui trabalhar em duas delas, a Paz e Terra, tinha uma familiaridade com o seu catálogo, atuei junto ao editor Fernando Gasparian como divulgador editorial nos anos 70, depois, retorno para trabalhar com o seu filho, Marcus Gasparian, no final dos anos 80 até meados dos anos 90. Não posso deixar de mencionar a Edições Graal, que foi do deputado cassado Max da Costa Santos, mais tarde adquirida por Gasparian. Nesta editora trabalhei com André, filho de Max e com Paul Christoff. Havia a Zahar, por pouco não fui divulgador da editora, conhecia Jorginho Zahar, filho do também grande editor Jorge Zahar, mas acabei ficando com a Brasiliense, peguei uma fase de mudança editorial, como divulgador no Rio, dentro da universidade da coleção Primeiros Passos. não conheci o filho de Caio Prado Jr, o editor Caio Graco, na ocasião trabalhei para a Distribuidora Quadrelli, de Newton Quadrelli que o representava, trabalhei no Rio; para a Alfa-Ômega, através da Vários Escritos de Armando Nagata, não conheci Fernando Mangarielo, atuei como divulgador da Hucitec, conheci Flávio Aderaldo e Adalgisa Pereira, Achiamé uma pequena e boa editora que despontava no mercado com títulos de qualidade, atuei junto ao Robson Achiamé , preciso interromper, bom isto é papo para outra hora, volto a conversar a qualquer momento ou em edição extraordinária. Um abraço.

domingo, setembro 14, 2008

Um Observador do Cotidiano, Um Outro Olhar.














Estava com saudades deste meu cantinho, aliás, tenho produzido muito pouco, desde que virei livreiro de rua e livreiro virtual. Como livreiro virtual, tenho um espaço onde coloco os meus livros à venda, são livros usados. Ali, na página da Estante Virtual, nomeei o espaço como Banca da Carioca, em homenagem ao local onde trabalho, que é no Largo da Carioca, no corredor, entre a Caixa e o Edifício Central. Sou um livreiro, como diria alguns, onde o povo está. De onde estou, sentado, sou um observador do cotidiano, do movimento incessante de passantes. Tenho visto uma mudança de comportamento, impossível de acontecer em décadas passadas, muitas mulheres de mãos dadas. Dalí, vou deixando a vida me levar, vendendo livros e alguns sonhos, conhecendo pessoas e revendo amigos.
Gosto do Largo da Carioca, é uma das artérias do centro da cidade de grande e agitada movimentação de pessoas e de barulho. Confesso que mesmo tendo o ouvido de mercador, o som produzido no interior daquele espaço, é irritante, pois domina os gritos alucinados dos vendedores de cds, além dos xingamentos entre si, falam palavrão (não sou contra o uso do palavrão) sem nenhuma cerimônia, com muito exagero, brigam e não importam se estejam atendendo ou não.
Naquele espaço onde me localizo, há divisões espaciais, de um lado os pintores, os retratistas, um homem que vende sinos e artefatos de bronze, um mais próximo à banca de jornais, parece que faz leitura divinatória, não reparei, se está sempre por ali. Há o desafinado e chato saxofonista na entrada da Estação do Metrô. Em um extremo, de quem vem da Avenida Rio Branco, há a presença do pessoal do “artesanato” e bijuterias, há também, alguns latinos vendendo artesanato. O Largo da Carioca, é com certeza, um espaço democrático. Estão sempre ali, os bêbados, os pivetes, os mendigos, os carregadores de todo tipo de mercadorias, os montadores das tendas de livros, os vendedores de café/chás, de comida, doces, salgados e outros personagens.
No inicio da noite, um vendedor de sopa que sempre fala a mesma coisa, “ é sopa no mel, tome a sopa e depois o mel, a melhor sopa da cidade”. O vendedor é um homossexual nordestino, sempre de boné virado para trás, estaciona com um imenso carro perto do pessoal do cd, é uma encarnação geral. Sempre aparece por lá, o vendedor de livros jurídicos que é conhecido em toda a cidade como Camarão. O pessoal do cd e os passantes, os que ficam por ali, basta perceberem a presença de Camarão, ele gosta de ser assim chamado, mas faz o maior “mise en scène”, xinga os que o chamam pelo apelido, ameaça a brigar, é uma festa, um agito. Surgem gritos de Camarão por tudo que é canto.Coisa de louco.
O vendedor de livros, Brás, um dos pracistas mais antigo, hoje aposentado e com 80 anos, em processo de decrepitude, passa todo dia para conversar as mesmas coisas comigo, fala muito baixo, que chego a não ouvir o que ele diz. Quando trabalhava para a distribuidora Irradiação Cultural, deixou de falar comigo, por ser um concorrente de seu patrão, na época em que eu tinha uma distribuidora de livros. Como é a vida, sempre o recebo bem, escuto. Sempre tratei colega muito bem, dei empregos para quem tivesse passando por dificuldades, era mixaria, mas acolhia um colega de profissão, penso que fui e sou um profissional solidário, não há ninguém que possa falar o contrário, para confirmar, os colegas que ainda estão no livro, apareceram para me visitar, souberam que eu estava de volta ao livro. Perdi muito tempo de minha vida, por escrúpulos de trabalhar na rua, hoje, não quero outra coisa, claro que hoje com a nova forma de trabalho, a internet, é uma ótima ferramenta, é um bom canal de vendas.
Voltando ao assunto do local onde trabalho, é evidente que há um problema de espaço na Banca do Alberto, foi imposta a um reduzido espaço mínimo, onde mal cabem seis expositores de chão, ou duas pessoas interessadas em ver os livros expostos. Sei que foram tomando o espaço bem maior, disseram para mim, mas Alberto por uma razão interna, acabou concedendo o seu “maior” espaço para dois outros livreiros. Como já tive oportunidade de mencionar neste blog, ali, a família de Vavá, se arvora em dona do pedaço e ocupam a maior fatia daquele “latifúndio”.
Quem estiver ali e for uma pessoa observadora, notará de imediato que há distorções na distribuição do assentamento, nas montagens das “tendas”, há um favorecimento, se foi para beneficiar não sei, mas sei que produziu injustiças. Urge passar por uma nova reformatação do local. Na divisão da família entre si, chegaram ao ponto de possuir uma tenda, apenas para expor uma editora de livros infantis. Que luxo! A metragem do espaço é estabelecida pelos livreiros da família de Vavá e de Domingos que arbitram a metragem a seu bel prazer; para isto, chegam bem cedo, para demarcar a área ocupada. A família de Vavá, ele inclusive, trabalha para a campanha do candidato Lúcio Costa, antigo chefe do Núcleo de Controle Urbano da Prefeitura na área de Coordenação de Licenciamento e Fiscalização. Parece que o órgão tem o objetivo de controlar as ações de ordem urbana na cidade. É no contingente de camelôs, pessoal das feiras livres, etc, que configura o universo onde se locomove o candidato Lúcio Costa (DEM), ali, busca votos. Sua substituta no cargo público, é a esposa Susan Karen de Campos.
Quando ficava abrigado na bancada de Domingos,ele me passava muita informação do local, mas por uma discordância, a quem caberia uma venda,acabei saindo. Assim que cheguei a situação já estava definida, o banco onde Alberto senta, por limitação do espaço de Alberto, acabava ficando no interior do espaço de Domingos. Mais cedo ou mais tarde, comentei com algumas pessoas e com Marilene que isto aconteceria. Ficávamos um ao lado do outro, conversávamos, trocávamos idéias sobre o espaço dos livros, eis que de uma hora para outra, tudo mudou. Uma cliente ao perguntar para mim, se tinha Memórias Póstumas de Brás Cubas, confirmei que tinha; Domingos mais do que de pressa, levantou e foi buscar o livro, fiz uma observação para o afoito, ganancioso, mal educado e ao grosseiro vendedor de livros, alertei, que foi para mim que o cliente havia perguntado, logo a venda seria minha. Esclareci, mesmo se não houvesse venda, teria por principio de responder, até por gentileza ou educação, conduta que rege o meu cotidiano, à pergunta da cliente. Não agi fora da ética, sempre respeitei quando era dirigido a ele, neste caso, não haveria como, se eu tivesse o livro, e deixasse para ele, apenas por estar embaixo da mesma tenda, passar para ele, faria como sempre fiz, se não tivesse o livro, encaminharia para ele.
Ficou irritado dizendo que qualquer venda naquele espaço seria dele. Por aquele espaço ele paga. Por pouco, para evitar polêmicas, não questionei a metragem do espaço, não há nenhuma referência de metragem na licença, logo quem determina e invade, é quem chega primeiro, é quem estabelece a metragem. Alberto, segundo disseram, chegava sempre depois, isto no mundo dos espertos, tem o seu preço. Respondi que por estar ali, e foi perguntado a mim, logo a venda era minha, lembrei para o “ilustre”, aliás, é como gosta de tratar os seus clientes, ora como “ilustre”, ou, “meu rei”. Lembrei que em nenhum momento, quando dirigido a ele, nunca interferi, reconhecia como a venda ter sido efetuada por ele. Neste momento senti com quem estava me relacionando. Domingos é um péssimo sujeito, extremamente repressor, que faz qualquer coisa pelo dinheiro, anda sempre de boné e de mãos para trás, pior que, ainda exibe um discurso religioso (pentencostal) e moralista, alegou por pagar aquele espaço, lhe dá o direito de me expulsar dali., afinal, não só a mim, como Alberto. A esposa Cida, companheira dele, reprime ela o tempo todo, está sempre achando defeitos no que ela faz, é sempre destratada por ele; não concordou com a postura do marido ao me afastar dali. Por discordar do marido, irritada, vai embora e o deixa sozinho. Vi muitas vezes, abandonar a barraca. Ainda voltarei ao assunto...Até breve!

terça-feira, agosto 26, 2008

Agradeço ao Livreiro Alberto Pereira, o Filósofo


Estou como vocês perceberam, ausente deste blog e do outro. O outro para quem não sabe, é o blog Esquinas do Tempo, um espaço que criei para escrever o que vier na telha; também desempenho vez por outra, o papel de colaborador com comentários sobre a política do Vasco, clube pela qual torço, no site Supervasco. Se quase não tenho tempo para um, quanto mais para escrever em três, o tempo ficou escasso, pois no momento, me transformei em livreiro de rua e livreiro virtual, atividade que tenho curtido muito.
Minha passagem junto ao livreiro Vavá foi efêmera e decepcionante, da empolgação inicial e o agradecimento pela oportunidade de voltar ao livro, sem dúvida, reconheço e mantenho meu agradecimento. Com o decorrer da convivência pude perceber claramente o comportamento dúbio, claudicante, escorregadio do livreiro Vavá, acrescentaria também, a dificuldade que tem de cumprimentar alguém, percebo que há ausência total no trato urbano. Acho muito deselegante, na convivência com outro colega de trabalho, o sujeito, não se dignar a cumprimentar, dar um Bom dia, ou, até mais...Acrescento o hábito deselegante de, sem mais nem menos, deixar a pessoa falar sozinha, que dizer, sai da conversa sem comunicar nada, simplesmente sai, quando notam, sumiu. A falta de compromisso com o outro, é a linguagem permanente de comunicação em seu cotidiano. Vi pessoas que ele marcava para comprar livros, aparecerem na hora combinada, ele como parte interessada, não comparecia. Um vez "combinou" com um livreiro morador de Santa Teresa para comprar seus livros, o homem veio com duas enormes e pesadas sacolas, quando ali chegou, constatou que Vavá sumira, deixou o cara a ver navios, o homem (César - descobri mais tarde em conversa com o próprio, o seu nome) ficou possesso, dizendo que gastou com passagem para nada.Para mim, não me comunicou nada, respondi e fiquei tão perplexo quanto, só não fiquei irado como o homem da sacola.
Pelo tempo de trabalho com livros, Vavá formou uma boa clientela, um segmento de leitores dos quais muitos gostam de comprar livros por um real. Ali, entra tudo, desde livros sem capa, com defeito, faltando páginas, qualquer livro sobre qualquer assunto, são despejados naquele espaço.Tem sido a promoção permanente que faz em sua bancada. O convidativo preço, não diria, a preço de banana, pois a fruta está cada vez mais cara, pois superou o valor de um real, que hoje é vendida, ainda mais a peso e não à dúzias como se comprava no passado.
Talvez, tenha me precipitado ao qualificar sua composição no perfil de livreiro, cabe mais a de vendedor de livros, um bom vendedor de livros, trabalhador, pega no pesado, sempre com a carga nobre prá lá e prá cá. Vava´se autoproclama um conhecedor da vida de Monteiro Lobato, pode até ser. Aliás, vende esta idéia de pesquisador da obra de Monteiro Lobato, de ter o maior acervo sobre Monteiro Lobato. Não fiquei muito convencido, para mim, a impressão que tive, foi um conhecimento envernizado da biografia de Monteiro Lobato, aliás desconheço qualquer trabalho de cunho intelectual provindo do livreiro Vavá. Em seu curriculum acrescenta a de escritor infantil, publicou e encontra-se esgotado um livro infantil cujo título é Risadinha, montou uma livraria em sua terra natal, é membro da Academia Cearense.
Percebi quando comentei, que não sabia que Monteiro Lobato, foi quem apresentou em 1944, Ênio Silveira um estudante de Sociologia a Octalles Marcondes Ferreira, ex-sócio de Monteiro Lobato, na ocasião, Octalles era dono da Companhia Editora Nacional (CEN) que veio no futuro a ser sogro de Ênio, que casa com Cléo Marcondes Ferreira. Octalles convidou para trabalhar na Companhia Editora Nacional, mais tarde, entregou a Civilização Brasileira, que havia comprado em 1932, de um grupo, dentre eles, os sócios: Gustavo Barroso, escritor integralista, o livreiro integralista Getúlio M. Costa, o escritor Ribeiro Couto e o jornalista Hildebrando de Lima, irmão do poeta Jorge de Lima. A mudança de perfil da editora Civilização, acontece quando Ênio Silveira em 1951 ao voltar de viagem feita aos Estados Unidos, foi fazer um curso de editoração com Alfred A. Knopf. Voltarei ao assunto em uma próxima oportunidade, mas voltando ao "livreiro" Vavá...
Acho mesmo que os personagens de sua predileção não são os do Sitio do Picapau Amarelo e sim do escritor italiano Carlo Collodi, do velho carpinteiro Gepeto, do Grilo Falante, etc... Vavá foi para o Ceará, ficou ausente por mais de um mês, quando voltou, empregou a cunhada, antes deixou a filha, uma adolescente para tomar conta da bancada. O grande estoque que dizia ter, não foi mostrado; quando voltou de viagem, muito pouco livro foi oferecido pra vender. Nem alimentou a filha com livros durante a sua ausência. Notava-se à distância, falta de material, o que veio a confirmar quando voltou a exibir uma baixa oferta. Não tocou uma palavra sequer do que foi combinado, ou seja, ao voltar, eu reassumiria a minha função de vendedor. Não pretendo me prolongar no assunto, encerro, aqui.
De repente me vi, de imediato para aonde ir? Eis que surge, a presença do livreiro-filósofo Alberto Pereira, dono de um espaço, de um mini-espaço, vizinho ao de Vavá, que abriu generosamente um espaço para este livreiro expor seus livros, aproveito para tornar público meu agradecimento a Alberto Pereira, filósofo formado pela UERJ, e pela Livraria do Povo, uma pequena livraria localizada na esquina da Rua México, com Araújo Porto Alegre, que foi criada pelo antigo livreiro-gerente da Leonardo Da Vinci, George, que mantinha simpatia pelo MR8.
O livreiro Alberto foi quem acolheu este sociólogo por formação e livreiro. O diálogo com Alberto, o Filósofo flui com mais facilidade, conhece os livros, e é um leitor. Ali, foi o meu pontapé inicial para me transformar em livreiro virtual, faço parte da comunidade de livreiros que trabalham com livros usados na internet, em uma página que abriga sebistas de todo o país, o badalado site Estante Virtual, ali, me transformei em Banca da Carioca.
Naquele espaço identificado como tenda cultural, abriga um grupo de livreiros, um destes grupos, é comandado por uma familia que dividiu o espaço público ao seu bel prazer, que inclui o vendedor de livros Francisco Olivar, em uma ponta, há o livreiro Júlio, cujo pai é do ramo e atua há décadas com livros, um senhor bem idoso; em outro extremo, há a presença de Domingos, sempre de boné, um "livreiro", iniciado em uma livraria, na época, uma das poucas livrarias do Méier, na Dias da Cruz, a livraria Panno, que priorizava a venda de jornais e revista, aliás, esta é a sua origem. Domingos se revelou amigo, ficou contente em saber de minha história, lembramos que nos conhecemos quando trabalhei como pracista da Paz e Terra, mas revelou sua face, tirou a sua máscara e em pouco tempo, mostrou ser um "colega" extremamente individualista, sem ética. De baixa instrução, aliás, uma das características do pessoal de livraria, sua base intelectual é apoiada em um índice muito baixo de informação. Monocórdico ao divulgar os livros de sua banca, repete sempre: "Está sempre chegando novidades, tem sempre novidades, todo dia tem novidades". O quem vem a ser novidade em um banca com livros usados? Qualquer titulo pode ser considerado como novidade. Outro dia, cometeu um grande equívoco, fui testemunha, uma cliente pediu um livro de Freud, ele apresentou um livro sobre Freud, a moça ao ver o livro dispensou, disse que ela perguntou se tinha um livro de Freud, eu mostrei, ficou irritado, mas só percebeu o engano, quando chamei a sua atenção para o livro, que era sobre Freud e não do autor, ficou sem graça."Trata os clientes como ilustre, ou meu rei" com uma entonação de um baiano.
Domingos relaciona com clientela muitas vezes de modo brusco, rude, chamando atenção dos incautos clientes que por ventura abram o livro do modo em que ele não gosta, chega a advertir o cliente contra o modo com que manuseia as folhas do livro.
Atualmente parte do grupo de "livreiros" fazem a campanha de um candidato a vereador, uma das mulheres da familia Gários, chegou a propor recolher grana para a campanha do candidato Lúcio Costa, lembro que Alberto rechaçou de imediato em colaborar, o pequeno grupo no momento distribui santinhos, e expõe um banner na rua. Os livreiros não se engajam claramente, deixam por conta de zelosos e dedicados funcionários tal militância.
Volto a conversar sobre livros, tenho de ir à luta e sem pedir licença. A imagem exposta neste post, foi o logo de minha livraria, aproveitada na distribuidora e agora resgatada para vincular a imagem exibida, com a minha identidade de livreiro de rua e livreiro virtual. Um abraço e até breve.